Tosse seca e constante, inflamação da garganta, chiado no peito e até falta de ar, sintomas típicos das síndromes respiratórias, como a causada pelo novo coronavírus, mas que na verdade pode indicar um problema no sistema digestivo. Isso mesmo, o refluxo, uma doença do trato intestinal, pode sim ser confundido com um problema respiratório.
De acordo com o cirurgião gastro-robótico Adilon Cardoso Filho (CRM GO 9616), a pessoa deve desconfiar que uma tosse seca, uma dor de garganta ou a falta de ar podem ser indícios de um problema intestinal, quando justamente, após um amplo diagnóstico, for descartado que estes sintomas não apontam para nenhuma anomalia no sistema respiratória do paciente. “Prioridade aos sintomas, se a pessoa tem tosse, chiado, o primeiro especialista a qual este paciente deve ir á o pneumologista e não ao gastro. E só então após uma avaliação ampla deste especialista, ao não constatar qualquer alteração no aparelho respiratório, aí sim será o momento em que esse paciente deverá procurar um gastroenterologista para que se constate o quadro de refluxo”, explica o médico.
O especialista esclarece ainda que essa procura ao gastro deve ser mais necessária quando se apresenta junto com os sinais respiratórios alguns sintomas clássicos do refluxo gastroesofágico, tais como dor epigástrica (dor de estômago), o desconforto após se alimentar com a sensação de retorno da comida, azia ou queimação no estômago e apneia do sono.
Apesar de acometer com maior frequência e muitas vezes com maior intensidade as pessoas obesas ou que estão com sobrepeso, o refluxo não pode ser considerada uma doença exclusiva deste grupo de pacientes. “Temos a ocorrência dessa patologia desde os recém-nascidos, dentro das especificações típicas desta fase da vida, é claro. Também nos idosos pode ocorrer o refluxo, em pacientes masculinos ou feminino, em pessoas super magras e também no paciente obeso. Portanto, é uma doença que pode incidir em todas as faixas de idade e com a mesma frequência em ambos os sexos”, afirma Adilon Cardoso Filho.
Problema crônico
O médico explica que o refluxo gástrico é, muitas vezes, tido apenas como um sintoma de algum outro problema de saúde, mas na verdade, quando ocorrido com frequência, passa a ser um problema crônico que merece atenção médica e tratamento. “Muitas vezes o paciente não faz essa associação de que o refluxo é na verdade uma doença, e não um simples sinal de um mal intestinal, e com isso a pessoa se automedica para que esses sintomas passem, e com isso a ida ao consultório é adiada e o problema agravado”, alerta o médico Adilon Cardoso Filho.
Uma pesquisa sobre o conhecimento e a incidência da doença do refluxo gastroesofágico no Brasil, conduzida pela empresa de estudos de mercados GFK e encomendada pela farmacêutica Takeda, revelou que entre as 1.773 pessoas entrevistadas, 28%, disseram que sentem algum sintoma da enfermidade, mas não o associam à doença. Um indicativo que cerca de 30% da população brasileira pode ter refluxo e não saber disso.
Horários e escolhas
Para Adilon Cardoso Filho, o estilo de vida desregrado, sem horários definidos para comer e com péssimas escolhas alimentares são a raiz da grande maioria dos casos de refluxo. “Hoje a moçada levanta cedo, não toma café da manhã, na hora do almoço ingere muito líquido, depois do trabalho muitos ainda vão para faculdade e só então tarde da noite é que eles vão comer e jantar em maior quantidade, só que essa pessoa vai deitar logo, porque daqui a pouco às 6h ela precisa está de pé e começar tudo de novo. Então essa situação de ruptura dos horário adequados para as principais refeições, é uma das principais etiologias (causas) de problemas gastrointestinais como o refluxo. Sem falar da alta ingestão de alimentos que facilitam o refluxo, em especial as comidas de fast food”, detalha o médico.
Por isso a prevenção e o tratamento do refluxo passam, necessariamente, por uma mudança de hábitos, além dos procedimentos clínicos, medicamentoso e cirúrgico. “O refluxo tem muitos fatores orgânicos, mas também muitos fatores mecânicos. E a melhor maneiro que temos para prevenir é atuando nos fatores mecânicos, ou seja, estômago é uma bolsa que tolera uma certa quantidade de volume e pressão. Quanto maior o volume, maior a pressão sob a válvula desta bolsa. Então é sobre este princípio mecânico de quanto menos pressão sob a válvula, menor o risco de que ela falhe. Diante disso, a dica é comer porções menores, mas numa frequência maior ao longo do dia, diminuir a ingestão de líquidos durante as refeições e não deitar logo depois das principais refeições”, explica o médico.
Tratamento
O combate ao refluxo sempre inicia com o tratamento clínico, que é atenção àquelas medidas mecânicas citadas anteriormente. Mas além disso usamos também muitos medicamento com intuito de diminuir a secreção ácida no estômago. Usa-se também alguns fármacos procinéticos gástricos que aumentam a motilidade para o esvaziamento gástrico mais rápido.
Mas para os casos frequentemente reincidentes e mais intensos , não havendo o resultado esperado após os tratamentos clínico e medicamentoso, existem os procedimentos cirúrgicos, conforme explica o médico Adilon Cardoso. “Hoje temos disponíveis dois tratamentos cirúrgicos, um via laparoscópica e outro via cirurgia robótica, sendo este último muito mais avançado e preciso, o que proporciona resultados ótimos principalmente em casos recidivos (que voltam com frequência).”
Conforme explica o especialista, a cirurgia robótica é muito mais eficiente porque, além de menos agressiva, traz resultados de forma muito mais rápida e não há o uso de nenhum elemento estranho ao organismo, usando-se o próprio estômago para criar uma barreira mecânica contra o refluxo. “É feito na transição esofagogástrica, localizada na cavidade abdominal, uma válvula, usando o próprio estômago. Não há, portanto, a introdução de nenhum material externo. Passa-se o estômago por trás dele mesmo e fecha em cima, criando uma barreira mecânica que impede o refluxo. Já no outro dia após a cirurgia o paciente para de ter ásia, os que têm tosse crônica por causa do refluxo deixam de ter este sintoma”, explica o cirurgião.
O médico acrescenta ainda que a cirurgia “aberta” (via laparoscópica) está praticamente abolida, pelo menos em serviços de saúde mais avançados, em virtude de ser mais invasiva, trazer resultados menos eficientes na comparação com os procedimentos mais modernos e ser uma cirurgia que tem um certo grau de dificuldade para sua realização.