Eu não posso aceitar que haja omissão de qualquer uma das autoridades que não seja uma ação dura e firme às consequências que poderão vir. Temos que trabalhar em sistema de mutirão, com todas as nossas forças convergindo para um único objetivo: não atingirmos esse número de óbitos projetados.” A afirmação do governador Ronaldo Caiado foi feita logo depois da apresentação do estudo técnico da Universidade Federal de Goiás (UFG), divulgado em videoconferência nesta segunda-feira (29/06) e que apontou que se o poder público e o setor privado não fizerem nada a partir de agora, o Estado deve chegar a setembro com 18 mil mortes ocasionadas pela Covid-19. “Como pesquisador e cidadão goiano, digo que esse é um número inaceitável e imoral”, frisou, mais de uma vez, o professor doutor Thiago Rangel, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG. Ele integra o grupo que faz o monitoramento da transmissão do novo coronavírus em Goiás.
Diante das projeções levantadas pelos pesquisadores e das sugestões de medidas a serem adotadas, Caiado foi enfático ao falar que “no que for prerrogativa do Estado”, Goiás começa a partir de amanhã (30/06) uma quarentena alternada. Em outras palavras, significa dizer que o comércio deverá ficar fechado 14 dias consecutivos e, depois, será reaberto pelo mesmo período, porém com todas as precauções indispensáveis que devem ser seguidas durante a pandemia. O novo decreto deverá seguir nos mesmos moldes do primeiro decreto governamental que versou sobre o isolamento social.
Diante da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que garante autonomia aos municípios de fazerem seus próprios decretos, caberá a cada Prefeitura definir sobre a situação do comércio local.
“Eu sou o único médico governador de Estado no País. A minha formação é embasada na ciência. Não vou transigir daquilo que a UFG nos sugere neste momento”, destacou Caiado. Ele ainda acrescentou que deixará à disposição dos prefeitos o efetivo das forças policiais do Estado para assegurar que o sistema de fechamento/abertura 14 x 14 do comércio seja cumprido, principalmente nos municípios onde há maior incidência de casos de Covid-19.
Além da quarentena alternada, o governador acatou outra sugestão dos pesquisadores da UFG. Trata-se do rastreamento de contatos, uma medida que nada mais é do que deixar em isolamento durante dez dias, não somente a pessoa testada positiva, mas todos aqueles que convivem diretamente com ela, mesmo os assintomáticos. “É um isolamento mais cirúrgico, implementado em vários países”, explicou Thiago Rangel.
O professor do ICB ainda apresentou a viabilização desse rastreamento. No caso de Goiânia, por exemplo, seriam necessários 400 monitores, trabalhando oito horas por dia, sete dias por semana, para que 32 mil pessoas pudessem ser acompanhadas ao mesmo tempo. Para o Estado, os números seriam de 2 mil monitores, atuando nas mesmas condições, para que 160 mil pessoas fossem monitoradas simultaneamente. A associação da quarentena alternada ao rastreamento de contatos, nas projeções da UFG, conseguiria reduzir em 76,5% o número de óbitos, o que representa salvar 10.283 vidas. “Para não ficarmos apenas em números, isso significaria salvar toda a população do município de Petrolina”, comparou Rangel.
Cenários apresentados
Além do cenário apresentando como alternativa para acabar com a dicotomia “vida versus economia”, e equilibrar as ações de modo coordenado e estratégico, o grupo da UFG também mostrou o que poderia acontecer em Goiás em outras duas situações. A primeira: se tudo ficar como está atualmente, com a média de isolamento social do Estado girando em torno de 36,89%, o número de óbitos seria o de 18 de mil em setembro, hipótese totalmente descartada por Caiado. “É imoral, como falou o Thiago, e desumano”, reiterou.
Na outra ponta, se um isolamento mais rígido por três meses fosse o caminho a ser trilhado, as projeções sobre a quantidade de mortos por Covid-19 cairiam de 18 mil para 4 mil óbitos até setembro, o que significaria salvar toda a população de São João D’Aliança – 13.530 pessoas. Entretanto, esse modelo também tem consequências negativas, como a baixa adesão da população, um grande impacto socioeconômico e o agravamento das desigualdades sociais. Por isso, a alternativa recomendada é a quarentena de 14 dias, acrescida do rastreamento de contatos.
A superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual da Saúde (SES) Flúvia Amorim, que também integra o comitê de pesquisas, ressaltou que a curva de óbitos em Goiás é menor do que a do Brasil. Entretanto, frisou, a curva ainda é crescente, enquanto em outros Estados já é possível verificar o processo de estabilização. “Precisamos de uma cadeia de ações para ter um resultado positivo e isso precisa acontecer de forma homogênea em todo o Estado”, assinalou.
Entre as recomendações para mitigar os efeitos da pandemia em Goiás, Flúvia listou a ampliação da capacidade diagnóstica, o rastreamento de contatos através de busca ativa, estratégias específicas para grupos prioritários, elaboração de um plano estadual de flexibilização das medidas de distanciamento social em médio prazo, e o aumento de número de leitos no Estado.
O secretário estadual da Saúde, Ismael Alexandrino, defendeu a adoção de medidas que prezem pelo equilíbrio e que traduzam uma realidade que possa ser alcançada. Ele destacou que se o Governo de Goiás não tivesse aumentado o número de leitos de UTI públicos – próprios ou conveniados – como fez, e sem a implantação da regionalização da Saúde, o sistema hospitalar teria entrado em colapso há dois meses.
Alexandrino ainda lembrou que as decisões devem ser tomadas, levando-se em conta que o Estado não consegue disponibilizar os 2 mil leitos de UTI necessários para o final de agosto, conforme apontado pelo estudo da UFG. Com tudo o que tem sido implementado pelo Governo de Goiás, o Estado chegará a 600, dobrando a quantidade do que existia no início de 2019. “Vamos também emitir uma nota técnica cancelando a realização de cirurgias eletivas no sistema privado; na saúde pública, elas já estavam suspensas”, informou.
Por fim, o governador Ronaldo Caiado ressaltou a importância de que prefeitos utilizem as verbas enviadas pelo governo federal no combate à Covid-19 para a realização de testes, em parceria com os laboratórios, pelo menos na população que resida nos bairros com os índices mais críticos de contaminação. A mesma recomendação foi feita aos empresários em relação a seus funcionários.
Após a explanação técnica da UFG e do titular da Saúde, todos os representantes de Poderes e instituições públicas, tal qual o Legislativo, Judiciário, Ministério Público, Defensoria do Estado, Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) e Tribunal de Contas do Estado (TCE), além da bancada federal no Congresso Nacional, apoiaram a decisão do governador de adoção do protocolo técnico sugerido pelos pesquisadores goianos, que combinam a quarentena alternada com o rastreamento de contatos.
Secretaria de Comunicação – Governo de Goiás