“Vampiros de Identidades”

Por Marjorie Vicente – psicóloga de imagem

 

A tão recente, temida e “esperada” morte de Amy Winehouse traz à tona uma questão em particular, especialmente para estudiosos do comportamento humano, o quão órfão os seus fãs estão se sentindo neste momento. Objeto de adoração antes na esfera divina ou espiritual, hoje o ídolo é tão humanizado que comete erros fatais que o levam a acabar com a própria história e deixam sem chão a legião que o segue.

É verdade, a midia colabora e muito com quem vai ou não ficar no topo e será o centro de todas as atenções a cada temporada, mas, algo bastante singular pode acontecer internamente no grupo que vai além da admiração, e que parece querer apropriar-se das características que deseja de forma tão fugaz existente em sua figura de devoção.

Não estamos falando de identificação musical, admiração pela atuação ou até curiosidade pelo ser humano que está atrás da personalidade em questão… estamos falando do fanatismo, do exagero, da falta de medida…

O psicólogo Reid Meloy e a antropóloga Helen Fischer descobriram há 6 anos atrás alterações relevantes na química cerebral dos stalkers. Stalkers? Você não sabe quem são? Pois é, eles conhecem o anonimato, mas estão longe de permitir o mesmo às suas vítimas. Da expressão inglesa “stalking”, termo relacionado a caça, que indica uma forma sorrateira de se aproximar da presa, os stalkers cercam a sua vítima e procuram não perdê-la de vista mesmo diante da rejeição explícita.

Voltando a descoberta da alteração química, os stalkers parecem funcionar com um excesso constante de dopamina (neurotransmissor responsável pela motivação) que representa o sentimento de desejo no cérebro. Por outro lado, o nível de serotonina (neurotransmissor responsável pelo bem-estar) é muitas vezes abaixo do normal, o que acaba por estimular estados de depressão e ansiedade. Não é incomum os stalkers apresentarem distúrbios de personalidade: narcisista ou borderline (idealização nas relações afetivas, esforço para evitar abandono real ou imaginário, perturbação da identidade, entre outros).

Nos bastidores da vida real, este comportamento também não está livre de acontecer… e neste contexto pode ser ainda mais difícil diagnosticá-lo, uma vez que se confunde com um comportamento irracional demonstrado por uma pessoa apaixonada que não é correspondida. Porém, esteja atento a gravidade em questão, o stalker não consegue pensar em nada que não tenha relação com a pessoa, os seus desejos e desespero são tão intensos que se assemelham a dor física e a ausência do ser amado faz com que ele disque centenas de vezes o número do seu telefone ou escreva páginas e páginas de mensagens de amor.

As motivações “amorosas” são as mais frequentes, mas, o desejo de vingança é também muitas vezes o combustível necessário, em especial, no caso de ex parceiros. Quando há envolvimento de “celebridades”, há ilusão e idealização da possibilidade de aproximação, além de um série de projeções colocadas sobre o ídolo. A idade ou sexo das estrelas não parecem influenciar o fato de serem ou não o alvo de perseguição, e sim, o quanto a sua vida privada é exposta.

Personalidade como Amy Winehouse se tornam um “prato cheio”, à medida que são polêmicas, donas de um estilo de vida próprio e singular forma de se expressar diante das normas sociais. Assim, se tornam figuras de idolatria para grupos que se sentem “à margem da sociedade”.

É claro que não podemos descartar ou não ver com “bons olhos” fãs que simplesmente admiram o trabalho de uma personalidade ou que até mesmo se identificam com as suas ideologias e não há nada de mal nisto. Aliás, o lado positivo de tamanha influência é a promoção de trabalhos sociais incríveis que as personalidades podem fazer pela quantidade de pessoas que conseguem atingir através da fidelização ao longo da sua carreira.

Mas, não é raro que o limite da sanidade seja ultrapassado e marcas que ficam para uma vida inteira sejam impressas no corpo, e o pior, na alma dos que parecem não ter uma vida com motivações próprias e razões para a felicidade ou tristeza que independam dos êxitos ou fracassos da figura admirada!

 

 

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